PÁSCOA O AMOR EM PRIMEIRO LUGAR
Páscoa, palavra de origem hebraica que significa passagem. Nossa vida inteira é Páscoa, passagem do egoísmo para a comunhão, da indiferença para a solidariedade, da violência para a paz. No seguimento de Jesus Cristo, morremos para nossos vícios e manias e ressuscitamos para o amor e a justiça. A vida humana é vida pascal.
A Páscoa nos recoloca diante do projeto de Deus à humanidade. Um projeto que se resume no programa de vida de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Por que, então, esse projeto não acontece, se é o projeto de Deus? É porque existe um outro projeto, o projeto do homem velho que domina os corações, as estruturas sociais, as instituições políticas e econômicas. Esse projeto tem por trás um outro deus . Basta perceber como muitas palavras do campo religioso passaram a ser usadas no campo da economia, do capitalismo neoliberal em que o dinheiro está à frente de tudo. Fala-se em santuário da moda, templo do sexo, sacerdotes da informática, missão do FMI, sacrifícios do ajuste fiscal, deuses do esporte. A transposição dessas palavras, especificamente religiosas, para o campo da economia revela que há um outro deus, uma outra religião, com adoradores e também vítimas.
Trata-se do deus da teologia da prosperidade, do mercantilismo religioso, do neoliberalismo, do capitalismo selvagem do poder opressor O materialismo não tem vida própria. Para se manter na crista da onda, para garantir seu valor e seu poder, ele precisa da vida de seres humanos. Aqui, entram as vítimas, oferecidas no seu altar. Certamente, não haveria tantas mortes em acidentes de trânsito e trabalho, em assassinatos no campo e nas cidades, nas lutas pelo controle do narcotráfico, em guerras e atos terroristas, mortes de fome e de doenças crônicas e criadas, destruição de florestas, poluição de águas etc. se esse deus econômico não fosse tão exigente, cínico e perverso. Ele precisa da vida dessas vítimas para poder se manter como um deus ídolo que valha a pena adorar e servir. As vítimas que mais agradam a esse deus são os indefesos: os pobres e a natureza. São as primeiras a serem atacadas, mortas e sacrificadas em seu altar.
A contradição de nossos tempos está nisso: fala-se tanto em direitos humanos, promoção e defesa da vida, preservação da natureza, saúde e educação, respeito a vida,etc. Mas não se quer reconhecer que a fonte das maldades está na adoração do deus dinheiro. Do deus da economia. Não se percebe que só haverá cidadania e justiça social, desenvolvimento sustentável, vida e dignidade para todos quando se conseguir controlar a sanha e a ganância do deus dinheiro,do deus das maldades. Trata-se, no fundo, de uma opção religiosa. Jesus de Nazaré já havia percebido essa contradição, esse duelo entre dois deuses: o Deus da vida e o deus dinheiro. Por isso, ele provocou os seguidores a uma tomada de decisão: ou Deus ou o dinheiro (Lc 16,13).
O mundo deverá fazer sua Páscoa, a passagem da adoração dos deuses egoístas, para o Deus da vida. De uma sociedade marcada pela ganância e concentração de bens e de renda à sociedade de partilha e de solidariedade. Do capitalismo neoliberal, selvagem e excludente, a um regime econômico e político em que todos possam ter pelo menos o mínimo necessário para viver com dignidade. Vale o anúncio pascal do verdadeiro sentido da vida: amar até o fim; não entrar no jogo da violência; não pagar o mal com o mal;não condenar pessoas mas partilhar a fraternidade, a acolhida,a compreensão,sentir o outro para uma páscoa missionária de discípulos e discípulas para que a saúde se difunda sobre a terra . Deus-Pai é o Senhor da vida. Ele não precisa da vida de vítimas. Ao contrário, nós é que precisamos da vida dele, para vivermos com dignidade, na solidariedade e na paz. É hora de evangelizar com mais amor, valorizar sempre as pastorais,os conselhos comunitários,os grupos de reflexão nas casas e os projetos sociais.
FONTE: Paróquia de Mutum
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