PARÓQUIA DE MUTUM REPRESENTA FORANIA
NA 16ª ROMARIA DAS ÁGUAS
Representantes de Mutum na romaria (Foto: Facebook). |
A paróquia de Mutum esteve presente na 16ª Romaria das Águas, no dia 10 de junho, em Governador Valadares. Estiveram presentes Cláudio Antônio Mendes, João Batista Lacerda (coordenador paroquial da Pastoral Socio-transformadora) e sua esposa Jovelina, e Isabel Monteiro (simpatizantes dos Movimentos Ecológicos).
Momento da Romaria (Foto: CNBB). |
O evento teve a participação de mais 10 mil lideranças de base e de movimentos sociais convocadas pela Pastoral da Terra e pela diocese de Governador Valadares. Partindo da paróquia São Judas Tadeu os participantes fizeram uma caminhada ao longo das margens do rio Doce. Foram apresentados testemunhos e denuncias.
Em seguida, houve Missa presidida por dom Werner Siebenbrock, com a presença de padre Nelito Dornelas (assessor da Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz) e de dom Aloísio Vital, de Teófilo Otoni. A pastora Sônia, da Igreja Metodista, se fez presente e havia também representação indígena.
Acompanhe abaixo a carta do encontro:
Carta dos romeiros e romeiras da 16ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais
Tudo que existe proclama: teu reino é reino de todos os séculos, teu domínio se estende a todas as gerações (Sl 145, 13).
Do Senhor é a terra com o que ela contém, o universo e os que nele habitam (Sl 24,1-2)
Do Senhor é a terra com o que ela contém, o universo e os que nele habitam (Sl 24,1-2)
Nós, romeiros e romeiras, dos diversos Vales e Montanhas de Minas Gerais, campos e cidades, reunimo-nos em Governador Valadares, às margens do Rio Doce e aos pés do pico da Ibituruna, para celebrar a 16ª Romaria das Águas e da Terra, sob o lema: das montanhas e vales férteis brote o compromisso com a vida e a saúde de seus povos!
Nesta caminhada romeira, refletimos sobre a realidade do nosso planeta, escutando o grito que sai da terra, das águas e dos seus filhos.
Testemunhamos que a conquista e a ocupação das terras em nosso País e a luta pela sobrevivência das pessoas que nelas convivem e trabalham são frutos de uma batalha desigual. De um lado, os devoradores da natureza, provocando uma verdadeira idolatria da terra e das águas, transformando tudo em mercadoria e fonte de lucro e riqueza para alguns. De outro, a identidade e a cultura dos povos e grupos sociais que vivem e convivem com a terra e dela cuidam como a mãe natureza.
Assistimos, hoje, às consequências dessa mercantilização da natureza: menos solos disponíveis para a agricultura camponesa e mais solos para o agronegócio e o agrotóxico, aumento dos monocultivos extensivos e intensivos, expansão da mineração, exploração violenta da mão de obra, invasão dos territórios das comunidades tradicionais; menos água de qualidade para a população e mais água para o hidronegócio e os grandes projetos; alternância de secas e enchentes, mais pragas, gerando uma intensa instabilidade na natureza, aumentando a migração e prejudicando a vida nas cidades e a saúde da população.
Conscientes de que não temos o controle absoluto sobre a Terra, pois dela dependemos para viver e conviver, queremos nos relacionar com ela como criatura e dom, nossa mãe e nossa casa: bonita, aberta a todas as pessoas, sem distinção alguma, pois todos e tudo que existe somos parte essencial da vida que nos foi dada pelo Criador. Por isso, não basta ouvir só o clamor dos filhos da terra. É preciso ouvir o grito ensurdecedor que sai da mãe terra e da irmã água.
Para preservar a vida do planeta e no planeta, nos comprometemos na promoção de políticas públicas que garantam para todas as pessoas o direito à água, ao ar puro, ao solo não contaminado, à segurança e à soberania alimentar e à saúde pública de qualidade e universal. Reafirmamos a necessidade ética de preservar o meio ambiente, protegendo e restaurando a diversidade, a integridade e a beleza dos ecossistemas do planeta, vivendo de modo sustentável, promovendo e adotando formas de consumo, produção e comercialização que respeitem e salvaguardem os direitos de todas as pessoas, o bem-estar comunitário e as capacidades regenerativas da terra.
Reafirmamos que aos indígenas, quilombolas, camponeses, recicladores e demais populações tradicionais cabe um papel vital no cuidado e proteção da Mãe Terra. Eles têm o sagrado direito a preservar sua espiritualidade, seus conhecimentos, suas terras, territórios e recursos.
O Brasil é o segundo País em concentração da propriedade da terra em todo o mundo. A celebração e a proclamação da nossa fé só serão verdadeiras quando provocarem uma democratização efetiva da terra, dos terrenos urbanos e o acesso a todo o povo brasileiro a água de qualidade.
Afirmamos que nenhum poder da história conseguirá tirar de Deus estes bens indispensáveis à criação e recriação da vida. Ele, no seu imenso amor e fidelidade, os entregou a todos como sinal da sua bondade e da sua vida e, cabe a nós, o dever de cuidar da terra e da água, defendendo os seus direitos e de todos os seus filhos e filhas.
É na memória contida na Sagrada Escritura que se baseia a nossa sabedoria e para lá temos sempre que voltar, como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas (Mt 13,52). Essa sabedoria quer se somar à sabedoria que vem das experiências milenares dos diversos povos e dos diversos ramos dos estudos científicos. É assim que, desde o princípio da criação, a força da vida vem enfrentando todas as formas da morte, num processo permanente de criação e recriação, até o fim da história, até que veremos novos céus e nova terra e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor (cf Apoc 21,1.4) e tudo será, definitivamente, bom, muito bom.
Governador Valadares – MG, 10 de junho de 2012
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